sexta-feira, 26 de junho de 2009

É Crime ter celulite?


A Ditadura da Beleza imposta a nós mulheres e em especial as Celebridades, nos dá a impressão que ter celulite é crime previsto em Lei. Como se não bastassem as exigências de que a mulher tem que ser magra, tem que usar bolsas grandes, bolsas pequenas, tem que usar xadrez, mini saia, roxo, amarelo, sapatos, bolsas e roupas nos tons da Estação, comer pouco, não comer isso nem aquilo, comer isso e aquilo, botar peito, tirar peito, tirar bumbum, botar bumbum, tirar culote, botar panturrilha, fazer lipo, fazer musculação, tomar anabolizante (tem mulher com voz grossa de tanto tomar), fazer drenagem linfática, e mais um monte de recursos para atingir o peso e o corpo ideal, tem tudo que é tipo de dieta. Dieta das Calorias, Dieta do Tipo Sanguíneo, do Dr. Atkins, Dieta South Bach, Dieta do Mediterraneo, Dieta da banana, e muitas outras.

E a Industria dos medicamentos para emagrecer? Essa nem se fala. Várias mulheres já foram vítimas fatais por fazerem uso dos mais diversos tipos desses medicamentos.

Voltando ao tema. Essa semana vi na Internet, mais precisamente, no ego.globo.com, fotos de Celebridades com os seguintes comentários:

"Celulite: ninguem escapa desses furinhos! Modelos, dançarinas, vejam quem exibe os temidos buraquinhos na pele."

" No SPFW do ano passado, a tcheca Karolina Kurkova levantou a discursão: modelo pode ter celulite?"

"No Fashion Rio deste ano, a top Ana Cláudia Michels mostrou que também tem celulite. A Loira contou que suas celulites não são descuido, pois ela malha e faz drenagem linfática."

"Isabeli Fontana, quem diria, também não escapou delas."

"As custas de muito tratamento estético e dolares, Britney Spears, conseguiu eliminar suas celulites do passado."

"A sex symbol Pamela Anderson também é atacada por elas."

"Na praia da Barra, no Rio, Diane Cristina, a mulher Jaca, mostrou sua pele casca de laranja."

"De férias no Brasil, Roberta Close já não é mais a mesma."

"No carnaval carioca, a Mulher Maçã escondeu suas celulites com uma capa."

" Rainha da Estácio critica modelos do Fashion Rio: " Elas são cheias de celulites." (Alexandra Mattos, rainha de bateria da Estácio de Sá).

Então eu conclui: Será que o trabalho que essas profissionais fazem está sendo ofuscado pelos furinhos na pele? E o esforço que cada uma fez para chegar onde estão e continuam fazendo para se manterem no espaço conquistado, não conta?

Quanta futilidade chamar a atenção para isso!!!

Fico entristecida pela inversão de valores. Que se valoriza mais o ter que o ser, isso todo mundo já sabe. As pessoas hoje são avaliadas pela Grife que usam, pelo modelo do carro, o Bairro onde moram, o Condomínio, a Academia que frequentam. Trocando em miúdos, pelo que ostentam. E há pessoas que fazem questão de ostentar muito, para melhor serem avaliadas. Para algumas não importa se não pagam o Cartão de Crédito, se devem o Cheque Especial, mas tudo que usa ter que ser Top de Linha. Não condeno ninguem por gostar do que é bom, porque eu também gosto, mas o objetivo e o fim a que se dispõem, que nem sempre é para uma satisfação ou necessidade pessoal, mas para que vejam ou pensem que "EU POSSO", "EU TENHO", "EU SOU".

O comentário da Rainha da Estácio, achei tão pequeno que nem deveria ser considerado, mas a mídia publica como se fosse a opinião de um profissional Doutor no assunto.

Sra. Alexandra Mattos, se vc teve a sorte de ser uma das poucas mulheres que não tem celulite, ao invés de criticar essas Top que estão fazendo o seu trabalho tão dignamente, love a Deus por ser uma privilegiada e continue fazendo seu trabalho com muito sucesso, sem criticá-las como se fosse crime ter celulite!!!

Já vi uma entrevista na Veja com vários homens das mais diversas atividades, e todos Celebridades, e eles foram unânimes em dizer que não se incomodam se a mulher tem ou não Celulite, portanto não vamos nos preocupar demais com isso. Importante é ter um estilo de vida saudável, com uma boa alimentação e prática de atividades fisicas, muita fé em Deus e muito amor para dar.


E viva a Celulite!!!

Zetinha

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Adoro casca de laranja cristalizada e por isso estou postando essa receita para vocês com um BOM APETITE!!!

Tirinhas de Casca de Laranja Cristalizada

Ingredientes:

2 laranjas bahia
2 xícaras de açúcar cristal

Modo de Preparo:

Tirar todo o bagaço da laranja e cortar as cascas em tiras finas. Deixar de molho na água por dois dias, trocando a água várias vezes ao dia e espremendo as cascas, para que saia bem o amargo.Colocar as tiras bem espremidas na panela junto com o açúcar. Deixar formar uma calda e ir mexendo sempre até secar e cristalizar.Despejar num papel manteiga, separando as tirinhas, para não grudarem. Esperar esfriar e guardar em um pote bem fechado.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Amo esse Salmo!!! Vamos refletir nele.

Salmos 139


1 Senhor, tu me sondas, e me conheces.
2 Tu conheces o meu sentar e o meu levantar;
de longe entendes o meu pensamento.
3 Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar,
e conheces todos os meus caminhos.
4 Sem que haja uma palavra na minha língua,
eis que, ó Senhor, tudo conheces.
5 Tu me cercaste em volta,
e puseste sobre mim a tua mão.
6 Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim;
elevado é, não o posso atingir.
7 Para onde me irei do teu Espírito,
ou para onde fugirei da tua presença?
8 Se subir ao céu, tu aí estás;
se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também.
9 Se tomar as asas da alva,
se habitar nas extremidades do mar,
10 ainda ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
11 Se eu disser: Ocultem-me as trevas;
torne-se em noite a luz que me circunda;
12 nem ainda as trevas são escuras para ti,
mas a noite resplandece como o dia;
as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
13 Pois tu formaste os meus rins;
entreteceste-me no ventre de minha mãe.
14 Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável
e maravilhoso fui formado;
maravilhosas são as tuas obras,
e a minha alma o sabe muito bem.
15 Os meus ossos não te foram encobertos,
quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido nas
profundezas da terra.
16 Os teus olhos viram a minha substância ainda informe,
e no teu livro foram escritos os dias,
sim, todos os dias que foram ordenados para mim,
quando ainda não havia nem um deles.
17 E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos!
Quão grande é a soma deles!
18 Se eu os contasse, seriam mais numerosos do que a areia;
quando acordo ainda estou contigo.
19 Oxalá que matasses o perverso, ó Deus,
e que os homens sanguinários se apartassem de mim,
20 homens que se rebelam contra ti,
e contra ti se levantam para o mal.
21 Não odeio eu, ó Senhor, aqueles que te odeiam?
e não me aflijo por causa dos que se levantam contra ti?
22 Odeio-os com ódio completo; tenho-os por inimigos.
23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração;
prova-me, e conhece os meus pensamentos;
24 vê se há em mim algum caminho perverso,
e guia-me pelo caminho eterno.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Como sou uma profunda admiradora de Florbela Espanca, posto dois poemas belíssimos:

Alma perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz

Florbela Espanca


Tarde de mais...


Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser
Em plena noite, a noite iluminar

E as pedras do caminho florescer!
Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão!
Braços abertos,Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!..

Florbela Espanca

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Mais uns pensamentos, nos quais vale a pena refletir:

" Há três coisas que jamais voltam: a flexa lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida."

"As coisas que queremos e parecem impossíveis, só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica." (Gandhi)

"Na vida não há prêmios nem castigos. Somente consequências." (Provérbio Tibetano)

"Se alguem me ofender procurarei elevar tão alto a minha alma para que a ofensa não me chegue." (Charles Dickens)

"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação." (Mario Quintana)

"Do sublime ao ridículo não há mais que que um passo." (Napoleon)

Zetinha

domingo, 14 de junho de 2009

SUCOS MEDICINAIS

Não é nenhuma novidade que as frutas contém grande quantidade de vitaminas e sais minerais, mas o que tendemos mesmo a esquecer é que essas substâncias são vitais para o bom funcionamento do nosso metabolismo.

Suco de Cenoura - é uma fonte riquíssima de vitamina A. Estimula o apetite e ajuda a digestão. É eficaz no combate à fadiga e à anemia, e à colite. Tomando-se 1 copo diariamente, embeleza e rejuvenesce, dando à pele um rosado natural. Pode ser tomado sempre e à vontade.

Suco de salsão - um tônico para os nervos.

Suco de Espinafre -é purificador, regenerador e reconstrutor dos intestinos. Tomado diariamente cura a constipação. Também é eficiente no combate à piorréia. NOTA: As pessoas que sofrem de cálculos renais não devem toma-lo. Nunca tome puro e sim em combinação com outros sucos, exemplo, maçã, etc. .

Suco de Repolho ou de Couve - só ou junto com suco de salsão, combate úlceras.

Pepino - é o mais eficiente diurético natural.

Suco de Tomate - Contra a excessiva acidez no organismo, resultante do abuso de amidos e carnes. Não deve, no entanto, ser tomado na refeição onde amidos e açúcares são servidos, pois anulariam sua ação alcalinizante.

Suco de Cebola- é excelente contra nervosismo, insônia e reumatismo. Combate as bactérias do nariz e garganta.

Alho - também é excelente purificador do sangue, absorvendo o ácido úrico e combatendo a pressão alta. É benéfico nas doenças dos pulmões e brônquios.

Suco de Salsão e Limão - neutralizam os gases digestivos, se tomados antes da refeição.

Suco de Maçã - é um purificador do organismo. É ótimo para os rins e combate a anemia.

Suco de Uva - ideal para o coração.

Abacaxi - auxilia a digestão das proteínas. Bom para dor de garganta.

Laranja - é um purificador do organismo e tem uma ação alcalina rápida. Rico em vitaminas A, B e C.

Suco de Mamão e Limão - são auxiliadores da digestão, especialmente indicado aos estômagos sensíveis.

Suco de Morango e Coco - ameniza as dores de garganta e combate úlceras estomacais e gastrites.

PARA USO INTERNO:

Fortificantes - 4 folhas de couve1 colher (sopa) de sálvia4 colheres (sopa) de salsinha
Passe pela centrífuga ou bata no liquidificador com 1/2 xícara de água.
1/2 xícara de alfafa4 cenourasProceda como indicado na fórmula acima.
1/2 xícara de agrião3 folhas de couveProceda como indicado na fórmula anterior.

Diuréticos - 1/2 xícara de acelga4 colheres (sopa) de quebra-pedra
Passe pela centrífuga ou bata no liquidificador com 1/2 xícara de água. - 1 pepino3 colheres (sopa) de salsaPasse pela centrífuga ou bata no liquidificador com 1/2 xícara de água. - 3 folhas de pata-de-vaca3 colheres (sopa) de quebra-pedra2 folhas de alfavaca
Passe pela centrífuga ou bata no liquidificador com 1/2 xícara de água.

Depurativos - 2 folhas de dente-de-leão2 colheres (sopa) de tomilho
Bata no liquidificador com 1/2 xícara de água.
- 2 a 3 folhas de serralha4 colheres (sopa) de cebola3 colheres (sopa) de salsaBata no liquidificador com 1/2 xícara de água, coando a seguir.

Reconstituinte- 1/2 xícara de rúcula3 cenouras4 colheres (sopa) de salsa
Passe pela centrífuga ou bata no liquidificador com 1/2 xícara de água. Coe num coador de inox.

PARA USO EXTERNO:

Cicatrizante - 4 folhas de tanchagem2 colheres (sopa) de alecrim
Macere bem, em vasilha de vidro, louça ou inox, devidamene esterilizada. Coe e aplique o suco no local do ferimento. - 3 colheres (sopa) da mucilagem da babosa1 colher (sopa) de guaçatongaProceda como indicado na fórmula anterior.

Queimaduras - 3 colheres (sopa) de folhas de aboboreira
Macere as folhas, coe a mucilagem e aplique no local.

Tirado do saite http://www.cantoverde.org/

sábado, 13 de junho de 2009

Hoje vai uma receita e Bom Apetite!!!

Faça um crepe afrodisíaco

A receita é da chef Manu Zappa: crepe de chocolate com pimenta e massa de morango.


Anote:
Massa de morango:
1 xícara de farinha
1 xícara de leite
1 ovo
4 morangos grandes
gengibre a gosto
1 pitada de sal
1 pitada de açúcar

Bater a mistura no liquidificador.

Recheio:
150g de chocolate derretido em banho-maria
pimenta dedo-de-moça sem sementes (quantidade a gosto)
Misturar a pimenta no chocolate derretido.

Modo de fazer:

Unte a frigideira com óleo.Jogue a massa de morango na panela aquecida.Quando a massa começar a desgrudar da frigideira, jogue o recheio de chocolate com pimenta.Dobre a massa, e o crepe está pronto.Para finalizar, enfeite o crepe com morangos, pimenta e açúcar.

Postada do gnt.globo.com/estilognt

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um poema de Guerra Junqueiro.

FIEL

Na luz do seu olhar tão lânguido, tão doce,
Havia o que quer que fosse
D’um íntimo desgosto :
Era um cão ordinário, um pobre cão vadio
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da miséria
À busca dum jantar.

E ao ver surgir da lua a palidez etérea,
O velho cão uivava uma canção funérea,
Triste como a tristeza ossiânica do mar.
Quando a chuva era grande e o frio inclemente,
Ele ia-se abrigar às vezes nos portais ;
E mandando-o partir, partia humildemente,
Com a resignação nos olhos virginais.
Era tranquilo e bom como as pombinhas mansas ;
Nunca ladrou dum pobre à capa esfarrapada :
E, como não mordia as tímidas crianças,
As crianças então corriam-no a pedrada.

Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boémio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão ;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
Onde sobrava o génio e onde faltava o pão.
Era desses que têm o rubro amor da glória,
O grande amor fatal,
Que umas vezes conduz às pompas da vitória,
E que outras vezes leva ao quarto do hospital.

E ao ver por sobre o lodo o magro cão plebeu,
Disse-lhe : - "O teu destino é quase igual ao meu :
Eu sou como tu és, um proletário roto,
Sem família, sem mãe, sem casa, sem abrigo ;
E quem sabe se em ti, ó velho cão de esgoto,
Eu não irei achar o meu primeiro amigo !..."

No céu azul brilhava a lua etérea e calma ;
E do rafeiro [1] vil no misterioso olhar
Via-se o desespero e ânsia d’uma alma,
Que está encarcerada, e sem poder falar.
O artista soube ler naquele olhar em brasa
A eloquente mudez dum grande coração ;
E disse-lhe : - "Fiel, partamos para casa :
Tu és o meu amigo, e eu sou o teu irmão. -"

E viveram depois assim por longos anos,
Companheiros leais, heróicos puritanos,
Dividindo igualmente as privações e as dores.
Quando o artista infeliz, exausto e miserável,
Sentia esmorecer o génio inquebrantável
Dos fortes lutadores ;
Quando até lhe acudiu às vezes a lembrança
Partir com uma bala a derradeira esp’rança,
Pôr um ponto final no seu destino atroz ;
Nesse instante do cão os olhos bons, serenos,
Murmura-lhe : - Eu sofro, e a gente sofre menos,
Quando se vê sofrer também alguém por nós.

Mas um dia a Fortuna, a deusa milionária,
Entrou-lhe pelo quarto, e disse alegremente :
"Um génio como tu, vivendo como um pária,
Agrilhoado da fome à lúgubre corrente !
Eu devia fazer-te há muito esta surpresa,
Eu devia ter vindo aqui p’ra te buscar ;
Mas moravas tão alto ! E digo-o com franqueza
Custava-me subir até ao sexto andar.
Acompanha-me ; a glória há de ajoelhar-te aos pés !..."
E foi ; e ao outro dia as bocas das Frinés
Abriram para ele um riso encantador ;
A glória deslumbrante iluminou-lhe a vida
Como bela alvorada esplêndida, nascida
A toques de clarim e a rufos de tambor !

Era feliz. O cão
Dormia na alcatifa à borda do seu leito,
E logo de manhã vinha beijar-lhe a mão,
Ganindo com um ar alegre e satisfeito.
Mas aí ! O dono ingrato, o ingrato companheiro,
Mergulhado em paixões, em gozos, em delícias,
Já pouco tolerava as festivas carícias
Do seu leal rafeiro.

Passou-se mais um tempo ; o cão, o desgraçado,
Já velho e no abandono,
Muitas vezes se viu batido e castigado
Pela simples razão de acompanhar seu dono.
Como andava nojento e lhe caíra o pelo,
Por fim o dono até sentia nojo ao vê-lo,
E mandava fechar-lhe a porta do salão.
Meteram-no depois num frio quarto escuro,
E davam-lhe a jantar um osso branco e duro,
Cuja carne servira aos dentes d’outro cão.

E ele era como um roto, ignóbil assassino,
Condenado à enxovia, aos ferros, às galés :
Se se punha a ganir, chorando o seu destino,
Os criados brutais davam-lhe pontapés.
Corroera-lhe o corpo a negra lepra infame.
Quando exibia ao sol as podridões obscenas,
Poisava-lhe no dorso o causticante enxame
Das moscas das gangrenas.

Até que um dia, enfim, sentindo-se morrer,
Disse "Não morrerei ainda sem o ver ;
A seus pés quero dar meu último gemido..."
Meteu-se-lhe no quarto, assim como um bandido.
E o artista ao entrar viu o rafeiro imundo,
E bradou com violência :
"Ainda por aqui o sórdido animal !
É preciso acabar com tanta impertinência,
Que esta besta está podre, e vai cheirando mal !"
E, pousando-lhe a mão cariciosamente,
Disse-lhe com um ar de muito bom amigo :
"Ó meu pobre Fiel, tão velho e tão doente,
Ainda que te custe anda daí comigo."

E partiram os dois. Tudo estava deserto.
A noite era sombria ; o cais ficava perto ;
E o velho condenado, o pobre lazarento,
Cheio de imensas mágoas
Sentiu junto de si um pressentimento
O fundo soluçar monótono das águas.

Compreendeu enfim! Tinha chegado à beira
Da corrente. E o pintor,
Agarrando uma pedra atou-lh’a na coleira,
Friamente cantando uma canção d’amor.

E o rafeiro sublime, impassível, sereno,
Lançava o grande olhar às negras trevas mudas
Com aquela amargura ideal do Nazareno
Recebendo na face o ósculo de Judas.
Dizia para si : "È o mesmo, pouco importa.
Cumprir o seu desejo é esse o meu dever :
Foi ele que me abriu um dia a sua porta :
Morrerei, se lhe dou com isso algum prazer."

Depois, subitamente
O artista arremessou o cão na água fria.
E ao dar-lhe o pontapé caiu-lhe na corrente
O gorro que trazia
Era uma saudosa, adorada lembrança
Outrora concedida
Pela mais caprichosa e mais gentil criança,
Que amara, como se ama uma só vez na vida.

E ao recolher à casa ele exclamava irado :
"E por causa do cão perdi o meu tesouro !
Andava bem melhor se o tinha envenenado !
Maldito seja o cão! Dava montanhas d’oiro,
Dava a riqueza, a glória, a existência, o futuro,
Para tornar a ver o precioso objecto,
Doce recordação daquele amor tão puro."
E deitou-se nervoso, alucinado, inquieto.
Não podia dormir.
Até nascer da manhã o vivido clarão,
Sentiu bater à porta ! Ergueu-se e foi abrir.
Recuou cheio de espanto : era o Fiel, o cão,
Que voltava arquejante, exânime, encharcado,
A tremer e a uivar no último estertor,
Caindo-lhe da boca, ao tombar fulminado,
O gorro do pintor !
A velhice do Padre Eterno (A caridade e a justiça)
Guerra Junqueiro



No topo do calvario erguia-se uma cruz,
E pregado sobre ella o corpo do Jesus,
Noite sinistra e má. Nuvens esverdeadas
Corriam pelo ar como grandes manadas
De bufalos. A lua ensanguentada e fria,
Triste como um soluço immenso de Maria,
Lançava sobre a paz das coizas naturaes
A merencoria luz feita de brancos ais.
As arvores que outr'ora em dias de calor
Abrigaram Jesus, cheias de magua e dôr,
Sonhavam, na mudez herculea dos heroes.
Deixaram de cantar todos os rouxinoes,
Um silencio pesado amortalhava o mundo.
Unicamente ao longe o velho mar profundo
Descantava chorando os psalmos da agonia.

Jesus, quasi a expirar, cheio de dôr, sorria.
Os abutres crueis pairavam lentamente
A farejar-lhe o corpo; ás vezes de repente
Uma nuvem toldava a face do luar,
E um clarão de gangrena, estranho, singular,
Lançava sob a cruz uns tons esverdeados.
Crucitavam ao longe os corvos esfaimados;
Mas passado um instante a lua branca e pura
Irrompia outra vez da grande nevoa escura,
E inundavam-se então as chagas de Jesus
Nas pulverisações balsamicas da luz.

No momento em que havia a grande escuridão,
Christo sentiu alguem aproximar-se, e então
Olhou e viu surgir no horror das trevas mudas
O cobarde perfil sacrilego de Judas.
O traidor, contemplando o olhar do Nazareno,
Tão cheio de desdem, tão nobre, tão sereno,
Convulso de terror fugiu... Mas nesse instante
Surgiu-lhe frente a frente um vulto de gigante,
Que bradou:

É chegado emfim o teu castigo

O traidor teve medo e balbuciou:

— Amigo,
Que pretendes de mim? dize, por quem esperas?
Quem és tu?

— O Remorso, um caçador de féras,
Disse o gigante. Eu ando ha mais de seis mil annos
A caçar pelo mundo as almas dos tiranos,
Do traidor, do ladrão, do vil, do scelerado;
E depois de as prender tenho-as encarcerado
Na enormissima jaula atroz da expiação.
E quando eu entro ali na immensa confusão
De tigres, de leões, d'abutres, de chacaes,
De rugidos febris e de gritos bestiaes,
Fica tudo a tremer, quieto de horror e espanto.
Caim baixa a pupilla e vai deitar-se a um canto.
E quando em summa algum dos monstros quer luctar
Azorrago-o co'a luz febril do meu olhar,
Dando-lhe um pontapé, como n'um cão mendigo.
Já sabes quem eu sou, Judas; anda comigo!

Como um preso que quer comprar um carcereiro,
Judas tirou do manto a bolça do dinheiro,
Dizendo-lhe:

— Aqui tens, e deixa-me partir...

O gigante fitou-o e começou a rir.

Houve um grande silencio. O infame Iskariote,
Como um negro que vê a ponta d'um chicote,
Tremia. Finalmente o vulto respondeu:

«Judas, podes guardar esse dinheiro; é teu.
O oiro da traição pertence-lhe ao traidor,
Como o riso á innocencia e como o aroma á flôr.
Esse oiro é para ti o eterno pesadello.
Oh! guarda-o, guarda-o bem, que eu quero derretel-o,
E lançar-t'o depois caustico, vivo, ardente,
Lançar-t'o gota a gota, inexoravelmente
Em cima da consciencia, a pudrida, a execravel!
Com elle hei de fundir a algema inquebrantavel,
A grilheta que a tua esqualida memoria
Trará, arrastará pelas galés da Historia,
Durante a eternidade illimitada e calma.
Essa bolsa que ahi tens é o cancro da tua alma:
Já se agarrou a ti, ligou-se ao criminoso,
Como a lepra nojenta ao peito do leproso,
Como o iman ao ferro e o verme á podridão.
Não poderás jámais largal-a da tua mão!
És traidor, assassino, hypocrita, perjuro;
A tua alma lançada em cima d'um monturo
Faria nodoa. És tudo o que ha de mais vil,
Desde o ventre do sapo á baba do reptil.
Sahe da existencia! dize á sombra que te acoite.
Monstro, procura a paz! verme, procura a noite!
Que o sol não veja mais um unico momento
O teu olhar obliquo e o teu perfil nojento.
Esse crime, bandido, é um crime que profana,
Todas as grandes leis da vida universal.
Esconde-te na morte, assim como um chacal
No seu covil. Adeus, causas-me nojo e asco.
Deixo dentro de ti, Judas, o teu carrasco!
És livre; adeus. Já brilha o astro matutino,
E eu, caçador feroz, cumprindo o meu destino,
Continuarei caçando os javalis nos matos.

»E dito isto partiu a procurar Pilatos.

Vinha rompendo ao longe a fresca madrugada.
Judas, ficando só, meteu-se pela estrada,
Caminhando ligeiro, impavido, terrivel,
Como um homem que leva um fim imprescriptivel
Uma ideia qualquer, heroica e sobranceira;
De repente estacou. Havia uma figueira
Projectando na estrada a larga sombra escura;
Judas, desenrolando a corda da cintura,
Subiu acima, atou-a a um ramo vigoroso,
Dando um laço á garganta. O seu olhar odioso
Tinha n'esse momento um brilho diamantino,
Recto como um juiz, forte como um destino.

N'isto echoou atravez do negro céo profundo
A voz celestial de Jesus moribundo,
Que lhe disse:

— «Traidor, concedo-te o perdão.
Além de meu carrasco és inda o meu irmão.
Pregaste-me na cruz; é o mesmo, fica em paz.
Eu costumo esquecer o mal que alguem me faz.
Eu tenho até prazer, bem vês, no sacrificio.
Não te cause remorso o meu atroz suplicio,
Estes golpes crueis, estas horriveis dores.
As chagas para mim são outras tantas flôres!»

Judas fitou ao longe os cerros do calvario,
E erguendo-se viril, soberbo, extraordinario,
Exclamou:

— «Não acceito a tua compaixão.
A Justiça dos bons consiste no perdão.
Un justo não perdôa.
A justiça é implacavel.
A minha acção é infame, hedionda, miseravel;
Preguei-te nessa cruz, vendi-te aos Farizeus.
Pois bem, sendo eu um monstro e sendo tu um Deus,
Vais vêr como esse monstro, ó pobre Christo nu,
É maior do que Deus, mais justo do que tu:
Á tua caridade humanitaria e doce,
Eu prefiro o dever terrivel!

»E enforcou-se.

Obtido em "http://pt.wikisource.org/wiki/A_velhice_do_Padre_Eterno/III"
Categorias: Guerra Junqueiro Poesia portuguesa

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Antes que elas cresçam

Affonso Romano de Sant'Anna


Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença.
Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

Essa postagem é mais um texto extraído do site http://www.releitura.com/
Não é segredo o quanto sou fã de Letíca Thompson. Daí mais um Texto dela:



"Os momentos mais bonitos da minha vida foram tantos que eu não poderia numerá-los. Eles existiram, ao ponto que muitas vezes pensei que morreria de felicidade. E também existiram aqueles momentos de grande tristeza onde eu preferia não existir. Sou uma exceção? Não, absolutamente não.
A vida é muito igual para todos nós, que a vivemos de forma diferente, segundo nossa personalidade. Não existem pessoas infalíveis e eu duvido que os que dizem que não se arrependem de nada do que fizeram na vida sejam honestos consigo mesmos. Na ânsia de buscar a felicidade as pessoas tropeçam muitas vezes: elas ferem-se, ferem aos outros, ferem o coração de Deus. Culpamos às vezes nossa natureza pecaminosa, mas isso não nos desculpa, não desculpa o fato de não tentarmos evitar os perigos e armadilhas.
Nosso pior juiz é nosso coração; a maior condenação é aquela que aplicamos a nós mesmos. De nada serve ser perdoado pelo mundo se não perdoamos nossa alma. Temos o direito de errar e temos o direito de querer acertar.
Deus não nos condena, Ele apenas sofre quando sofremos e abre-nos a porta a novas possibilidades.
Podemos fazer de nós mesmos seres melhores a cada dia, mais fortes, mais maduros e experimentados. Podemos aceitar a idéia de que nossos erros nos tornam seres mais vividos, sofridos talvez, mas jamais perdidos".
O Autor desse Texto é desconhecido, mas esse sentimento é bem conhecido nosso e não é privilégio só dele nem só de nossa geração, mas de todos, que como eu, tiveram a sublime e difícil missão de criar e educar filhos, quer da minha, da sua ou de gerações que nos antecederam e as que ainda estão por vir.



" Se eu tivesse meus filhos para criar de novo,
eu pintaria mais com meus dedos
e apontaria muito menos com eles.


Eu passaria menos tempo corrigindo e mais tempo conservando.
Eu tiraria meus olhos do meu relógio e
prestaria mais atenção em quão rápido o tempo está se passando.


Eu me importaria em saber menos, e saberia me importatr mais.
Eu passaria mais tempo brincando com eles.
Eu ficaria menos sério e me diverteria mais.


Eu correria mais com eles e olharia mais as estrelas.
Eu seria menos firme, mas, firmaria mais o meu amor por eles
Eu reformaria a auto estima, e deixaria a reforma da casa para depois.
Eu amaria menos a força, e viveria mais a força do amor."


Autor desconhecido

domingo, 7 de junho de 2009

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. "
(Fernando Pessoa)


"Pó és e pó voltarás a ser não foram palavras ditas à alma."(Henry Longfellow)


"Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma. Como o corpo que se lava não fica sujo, sem oração se torna impuro. "(Mahatma Gandhi


"Nem o Sol nem a Lua podem refletir-se claramente na água lamacenta. Assim a alma universal não pode realizar-se perfeitamente em nós, enquanto não afastarmos o véu da ilusão, isto é, enquanto perdura o sentimento do eu e do meu."(Ramakrishna)


"Experiência não é o que acontece com você, mas o que você fez com o que lhe aconteceu."(Aldous Huxley)


"A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível."(Mahatma Gandhi)
Essa é verdadeira e engraçada:

"Em latim, adultério que dizer alteração, adulteração, colocar uma coisa em lugar de outra, crime de falsidade, uso de chaves falsas, contrato falso. Daí o nome adultério dado a quem profana o leito conjugal, como chave falsa introduzida em fechadura alheia."(Voltaire)
Conheci Lya Luft pessoalmente assistindo uma Palestra que ela proferiu em um Congresso Da Rede Femenina de Combate ao Câncer, do qual participei.
Se já a admirava, passei a ser sua fã e hoje para homenageá-la estou postando esse Texto dela:



Acenda o seu olhar

LYA LUFT


Diz a Lya: Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito. Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo. Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se mudança. De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos...
Mudança, o que vem a ser tal coisa? Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.

Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho...'VAMOS ACENDER NOSSOS OLHARES!!!!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

POR QUE ZETINHA?

Algumas amigas que entraram no meu Blog, me perguntam: Por que ZETINHA?

Bem, com o passar dos anos, mais precisamente ao 60, descobri o quanto me deixava feliz ser chamada ZETINHA, por primas, amigas, tios ou pessoas que conviveram comigo na infância. Esse era o meu apelido de criança. Quem começou a me chamar assim? Desconfio que foi minha irmã mais velha que, com apenas um ano a mais , não conseguia me chamar de MARIZETE. Isso sempre acontece.
.
Na verdade nunca gostei do meu nome e o apelido carinhoso me agradava muito. Sonho sendo chamada assim. Engraçado.

A Biblia diz que " Os jovens terão visões e os velhos sonharão".
Não que eu seja velha,claro que não sou (apenas sessentinha e um e bem pertinho de dois), mas que eu ando sonhando muito, não posso negar.

Será sintomático?
Não interessa! Ando sonhando muito e daí?
Será que esses sonhos são formas de me sentir realizada dormindo, já que acordada é impossível? Claro que é impossível. Vejamos:

Sonho que sou criança;
Que todas as minhas amigas ainda são crianças;
Que sou adolescente;
Que meus filhos ainda são pequenos;
Que não tenho problemas;
Que meus pais estão vivos;
Que os meus tios mais queridos, que já faleceram, também convivem comigo;
Que sou muito desejada e querida;
Que não há nada impossível;
Que sou muito amada;
Que tenho muita força e venço todas as lutas;
Que nada nem ninguém pode comigo;
Que só faço o que quero;
Que não há impossível para mim.

Mas tem um sonho que é muito sacana: que estou namorando. Acredite. E o pior: que o meu namorado é o meu marido. Pode? Fazer o que?

Voltando ao assunto ZETINHA. Minha mãe e meu pai me chamavam
assim e quando chamavam MARIZETE, eu tremia. Algo eu tinha feito de errado (na cabeça deles) e ia logo, desconfiada, saber do que se tratava.
Já podia imaginar. Marisa minha irmã "dedo duro" tinha aprontado ou melhor, feito um "fuxico", como chamávamos.

Mas eu tive pais maravilhosos. Que quando necessário me repreendiam, davam conselhos, ensinavam o que era uma conduta certa, que deveríamos fugir de coisas erradas e sempre me davam um voto de confiança, embora não permitissem que eu me defendesse. Isso para eles era uma falta de respeito e eu aceitava "numa boa".Baterem? Quase nunca!
Como os amava e os admiro!!!

ZETINHA era feliz e não sabia.
Brincava de boneca;
De casinha;
De guisado;
De roda;
De cobra cega;
De anel;
De pular corda;
De amarelinha (apenas para ser moderna, pois eu chamava academia. Era assim que se chamava);
De pedra;
De mamãe, pois de papai e mamãe, não era permitido(meu pai proibia brincar com meninos. Descobri depois de adulta o porque);
De professora ( era o sonho de toda menina da minha época).

Há meu Deus!!! Como eu brincava!!! Não tinha TV , só tinha Radio, e para ouvir tinha a hora.

ZETINHA.
Esse nome me remete a minha infância querida.
Por favor me chamem de ZETINHA.

Zetinha
(Marizete Lacerda)
COMO LIDAMOS COM A ARTE DE VER


Inspirada no texto "A complicada arte de ver" de Rubem Alves, resolvi escrever o meu pensamento a respeito:

"Os Olhos são as janelas da alma". Desde muito jovem, já ouvia essa expressão e passei a acreditar piamente nessa afirmação.

A forma de vemos as coisa, são reflexos de como se encontra nosso interior, nossa alma, nosso chamado estado de espírito. Tanto é, que as vezes, havendo visto algo por várias vezes, de repente, ao contemplarmos novamente, parecemos deslumbrados, e enxergamos ou descobrimos belezas antes não vistas .Ou pelo contrário, o que nos parecia belo, só conseguimos vislumbrar o seu avesso.

A depender do nosso estado de alma naquele momento, os nossos olhos estarão doentes ou sãos; verão beleza ou deformidade; alegria ou tristeza; amor ou ódio; acolhimento ou rejeição; pureza ou impureza; luz ou treva, fidelidade ou traição; perdão ou vingança; justiça ou injustiça, satisfação ou revolta.

E aí? O que podemos fazer para enxergar só o positivo das coisas e das pessoas? O que sentimos ou enxergamos dependem de nós?

É um grande desafio, mas, inegavelmente, depende de como nos dispomos a encarar cada desafio e se estamos decididos a enfrentá-los.
O Poeta sempre o belo; o artesão enxerga o resultado,antes de ver concluida a sua obra; o cantor se alegra e contagia as pessoas; o pessimista se entristece e contagia com a sua tristeza; o bombeiro, na tragédia, enxerga salvação e vida; o mendigo moedas que caem em sua mão; os que nada tem, vêem a possibilidade de adquirir; o surdo o milagre de poder ouvir; o cego a possibilidade de ver; o enfermo a cura; o que ama beleza em tudo!

E nós que possuímos tudo, o que temos visto?

Há muitos que só conseguem aquilo que não possuem e passam por cima de qualquer um, para obter mais e mais e satisfazer suas ambições. Esses são os ambiciosos inconformados. Nada contra serem ambiciosos, mas inconformados, tudo contra.

Temos que lutar contra a tendência de ver só o que queremos enxergar, limpando bem as lentes dos nosso olhos que, de tão sujas, só enxergam sujeiras ou de tão complacentes não enxergam os nossos defeitos para corrigi-los.

Jesus disse: " No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo".

Vamos enfrentar esse desafio?

Zetinha
( Marizete Lacerda)

Essa postagem a baixo, é mais um texto extraído do site http://www.releitura.com/


A COMPLICADA ARTE DE VER
Rubem Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto.

"Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra".Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção":

"De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

O texto acima foi extraído
Esse é para nós, mulheres que, além de maduras, somos sex...agenárias!!!

A Mulher Madura

Affonso Romano de Sant'Anna

O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs.

Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.
Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.
(15.9.85)

O texto acima foi extraído do si www.releituas.com
Apesar de ser um texto escrito como mensagem para o Ano Novo, achei por bem postá-lo hoje, pois considero que é muito importante para reflexão em qualquer dia e hora.

O vôo da águia

Affonso Romano de Sant'Anna

Já que estamos nesse clima de recomeçar, com a alma limpa para novas coisas, vou iniciar transcrevendo algo que recebi. Havia pensado em outra crônica, coisa tipo "propostas para um novo milênio", como o fez Ítalo Calvino. Mas à$ vezes um texto parabólico, elíptico, pode nos dizer mais que outros pretensamente objetivos. Ei-lo:

"A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.
Nessa idade, suas unhas estão compridas e flexíveis. Não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.

Nesse momento crucial de sua vida a águia tem duas alternativas: não fazer nada e morrer, ou enfrentar um dolorido processo de renovação que se estenderá por 150 dias.

A nossa águia decidiu enfrentar o desafio. Ela voa para o alto de uma montanha e recolhe-se em um ninho próximo a um paredão, onde não precisará voar. Aí, ela começa a bater com o bico na rocha até conseguir arrancá-lo. Depois, a águia espera nascer um novo bico, com o qual vai arrancar as velhas unhas. Quando as novas unhas começarem a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só após cinco meses ela pode sair para o vôo de renovação e viver mais 30 anos.

"Esse texto foi mandado como um cartão de fim de ano pela Rose Saldiva, da Saldiva Propaganda. Tem mais um parágrafo explicitando, comentando essa parábola e o titulo geral é "Renovação".

Achei que você ia gostar de tomar conhecimento disto, sobretudo quando janeiro nos inunda com sua luz.

Este texto vale mais que mil ilustrações.

Sei como é difícil uma nova ou surpreendente idéia para cartão de fim de ano. Mas esse, além de bater fortemente em nosso imaginário, dispara em nós uma série de correlações e desdobramentos.

A: abertura é seca e forte. Não há uma palavra sobrando. Parece as batidas do destino na Quinta Sinfonia de Beethoven. Releiam. "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.” ·Já li em algum lugar que Jung dizia que, em torno dos 40, alguma coisa subterrânea começa a ocorrer com a gente e os seres humanos sentem que estão no auge de sua força criativa. É quando podem (ou não) entrar em contato com forças profundas de sua personalidade.

Já ouvi de especialistas em administração de empresas que tem uma hora em que elas começam a crescer e seus dirigentes têm que tomar uma decisão — ou fazem com que cresçam de vez assumindo mais pesados desafios ou, então, fecham, porque ficar estagnado é apenas adiar a morte.

Já mencionei em outras crônicas o personagem Jean Barois (de Roger Martin du Gard) que fez um testamento aos 40 anos, quando achava que estava no auge de sua potência intelectual, temendo que na velhice, carcomido e alquebrado, fizesse outro testamento que negasse tudo aquilo em que acreditava quando jovem. Com efeito, envelhecendo, fez realmente outro testamento que desautorizava e desmentia o anterior. É que sua perspectiva na trajetória da vida mudara, como muda a de um viajante ou a do observador de um fenômeno.

O ano está começando.

Mais grave ainda: um século está se iniciando.

Gravíssimo: mais que um ano, mais que um século, um novo milênio está se inaugurando.

Três vezes Sísifo: o ano, o século, o milênio.

Sísifo — aquele que foi condenado a rolar uma pedra montanha acima, sabendo que quando estivesse quase chegando no topo — cataprum!... a pedra despencaria e ele teria que empurrá-la, de novo, lá para o alto.

Pois bem: "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade suas unhas estão compridas. Não conseguem mais agarrar as presas das quais alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.”

Nossa sociedade pensou ter inventado uma maneira de resolver, nos seres humanos, o drama da águia: a cirurgia plástica. Silicone aqui e acolá, repuxar a pele acolá e aqui, pintar e implantar cabelos. Isto feito, a águia sai flanando pelos salões, praias, telas, ruas, escritórios e passarelas.

Mas aquela outra águia prefere uma solução que veio de dentro. Talvez mais dolorosa. Recolher-se a um paredão, destruir o velho e inútil bico, esperar que outro surja e com ele arrancar as penas, num rito de reiniciação de 150 dias.

Então a águia, digamos, acabou de descasar.

(Tem que redimensionar seu corpo e seus desejos, desmontar casa e sentimentos, realocar objetos e sensações, reassumir filhos.)

Então a águia, digamos, acabou de perder o emprego.

(Tem que descobrir outro trajeto diário, outras aptidões, enfrentar a humilhação.)

Então, a águia,digamos, acabou de mudar de país.(A crise ou o amor levou-a a outras paragens, tem que reaprender a linguagem de tudo e reinventar sua imagem em outro espelho.)

Então, a águia, digamos, acabou de perder alguém querido.

(É como se uma parte do corpo lhe tivessem sido arrancada, sente que não poderá mais voar como antes, que o azul lhe é inútil.)

Então, a águia, digamos, está numa nova situação em que está sendo desafiada a mostrar sua competência.

(Tem medo do fracasso, acha que não terá garras nem asas para voar mais alto.)

Então, a águia, digamos, andou olhando sua pele, sua resistência física, certos achaques de velhice.

Pois bem. Há que jogar fora o bico velho, arrancar as velhas penas, e recomeçar.

Época de metamorfose.Os estudiosos da metamorfose dizem que não apenas larvas se transformam em borboletas. Para nosso espanto as próprias pedras passam também por silenciosas metamorfoses.

Enfim, parece que estamos condenados à metamorfose.

Morrer várias vezes e várias vezes renascer. Até que, enfim, cheguemos à metamorfose final, onde o que era sonho e carne se converte em pó.
Mas que fique sempre no azul o imponderável vôo da águia.

Texto extraído do site http://www.releituras.com/

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POEMA DE UM AMIGO APRENDIZ


Autor: Padre Zézinho


QUERO SER O TEU AMIGO
NEM DE MAIS E NEM DE MENOS
NEM TÃO LONGE NEM TÃO PERTO.
NA MEDIDA MAIS PRECISA QUE EU SOUBER.

MAS AMAR-TE, SEM MEDIDA,
E FICAR NA TUA VIDA
DA MANEIRA MAIS DISCRETA QUE EU SOUBER.
SEM TIRAR-TE A LIBERDADE.

SEM JAMAIS TE SUFOCAR.
SEM FORÇAR A TUA VONTADE.SEM FALAR
QUANDO FOR HORA DE CALAR,
E SEM CALAR, QUANDO FOR HORA DE FALAR.

NEM AUSENTE NEM PRESENTE DEMAIS,
SIMPLESMENTE, CALMAMENTE, SER-TE PAZ.

É BONITO SER AMIGO.
MAS, CONFESSO,
É TÃO DIFÍCIL APRENDER...!!!
E POR ISSO
EU TE SUPLICO PACIÊNCIA.

VOU ENCHER ESTE TEU ROSTO
DE LEMBRANÇAS...!!!
DÁ-ME TEMPODE
ACERTAR NOSSAS DISTÂNCIAS...!!!
Trago esse Poema de Silvia Schmidt, poetisa que muito admiro, para os meus amigos os quais prezo muito, e por valorizar cada amizade conquistada ao longo dos anos.
Com um beijo:

Amigos São Assim

Quero contigo dividir segredos,
Abrir-te inteiro este meu coração.
Quero apoiar-te em tempos de aflição,
Quero contar-te todos os meus medos.

Quero abraçar-te doce e fortemente
Quando chorares de alegria ou dor.
Quero que sintas todo o meu amor,
Quero manter-me sempre aqui presente.

Fala comigo quando precisares:
Entenderei a hora em que calares,
E esperarei que fales novamente.

No teu silêncio escutarei tua alma.
Eu quero ser presença que te acalma,
E tua presença quero eternamente.

Silvia Schmidt

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Esse poeta é de grande valor no mundo da Poesia e por isso estou postando no meu Blog esse seu Poema que achei belíssimo.Tenho orgulho de ser prima da esposa dele.
Á Jairo a minha admiração


À BEIRA-MAR
Jairo Nunes Bezerra

Em mais um fim de radiante entardecer
Caminhei célere pela beira-mar...
Prevaleceu o insano desejo de te ver,
Ante a aproximação do luar!

E na prevalência da solidão crucial,
À proporção que a onda me borrifava,
No dilatado espaço exponencial,
A saudade de ti mais se ampliava!

E desejei com vivacidade a tua presença,
Que finalizasse a reinante desavença,
Reinante no choque das águas com a areia!
Mas não prevaleceu tal ensejo

E tristonho na visão do céu chuvas prevejo,
Que irão mais te distanciar minha sereia!