sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fé – Machado de Assis (1839-1908)


As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.
No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
Senhor, tua palavra.

A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.

Ah! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
Vê quanto vale a terra;
Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, – os olhos moribundos
Volta às eternas glórias;
Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.
Salmo 1 – Fagundes Varela (1841 – 1875)

Salmo I

Ditoso o justo que afastado vive
Do concílio dos maus e do caminho
Trilhado por perversos pecadores!
E que nunca ensinou, bem como o ímpio,
Do negro vício as máximas corruptas!

Ditoso o homem que fiel concentra
De seu Deus criador na lei divina
Todo o seu pensamento e seu afeto,
E nela só medita noite e dia!

Ele será qual árvore frondosa,
Banhada por arroios cristalinos,
Que bons frutos produz na quadra própria,
E nunca perde o viço e a louçania.

Quanto a sorte do ímpio é diferente!
Brinco do acaso, das paixões joguete,
Assemelha-se ao pó que o vento agita
E sobre a terra desdenhoso espalha.

No dia, pois, do santo julgamento
Perante o Deus severo, confundido,
Fulminado será, deixando ao justo,
O prêmio prometido: a glória eterna!
FELIZ 2011!!!

Andei ausente mas quero presentear meu seguidores com esse Poema de Cartro Alves:


Amemos!

POR QUE TARDAS, meu anjo! oh! vem comigo.
Serei teu, serás minha… É um doce abrigo
A tenda dos amores!
Longe a tormenta agita as penedias…
Aqui, ao som de errantes harmonias,
Se adormece entre flores.

Quando a chuva atravessa o peregrino,
Quando a rajada a galopar sem tino
Açoita-lhe na face,
E em meio à noite, em cima dos rochedos,
Rasga-se o coração, ferem-se os dedos,
E a dor cresce e renasce…

A porta dos amores entreaberta
É a cabana erguida em plaga incerta,
Que ampara do tufão…
O lábio apaixonado é um lar em chamas
E os cabelos, rolando em espadanas,
São mantos de paixão.

Oh! amar é viver… Deste amor santo
— Taça de risos, beijos e de prantos
Longos sorvos beber…
No mesmo leito adormecer cantando…
Num longo beijo despertar sonhando…
Num abraço morrer.

Oh! amar é ser Deus!… Olhar ufano
O céu azul, os astros, o oceano
E dizer-lhes: “Sois meus!”
Fazer que o mundo se transforme em lira,
Dizer ao tempo: “Não… Tu és mentira,
Espera que eu sou Deus!”

Amemos! pois. Se sofres terei prantos,
Que hão de rolar por terra tantos, tantos,
Como chora um irmão.
Hei de enxugar teus olhos com meus beijos,
Escutarás os doces rumorejes
D’ave do coração.

Depois… hei de encostar-te no meu peito,
Velar por ti — dormida sobre o leito —
Bem como a luz no altar.

Te embalarei com uma canção sentida,
Que minha mãe cantava enternecida
Quando ia me embalar.

Amemos, pois! P’ra ti eu tenho nalma
Beijos, prantos, sorrisos, cantos, palmas…
Um abismo de amor…
Sorriso de uma irmã, prantos maternos,
Beijos de amante, cânticos eternos,
E as palmas do cantor!

Ah! fora belo unidos em segredo,
Juntos, bem juntos… trêmulos de medo,
De quem entra no céu,
Desmanchar teus cabelos delirante,
Beijar teu colo!… Oh! vamos minha amante,
Abre-me o seio teu.

Eu quero teu olhar de áureos fulgores,
Ver desmaiar na febre dos amores,
Fitos fitos… em mim.
Eu quero ver teu peito intumescido,
Ao sopro da volúpia arfar erguido
O oceano de cetim

Não tardes tanto assim… Esquece tudo…
Amemos, porque amar é um santo escudo,
Amar é não sofrer.
Eu não posso ser de outra… Tu és minha,
Almas que Deus uniu na balça edênea
Hão de unidas viver.

Meu Deus!… Só eu compreendo as harmonias,
De tua alma sublime as melodias
Que tens no coração.
Vem! Serei teu poeta, teu amante…
Vamos sonhar no leito delirante
No templo da paixão.