quinta-feira, 24 de junho de 2010

Antropóloga explica o que preocupa as brasileiras depois dos 50 anos


Elas reclamam. Muito, e de tudo. As rugas não dão trégua, os homens já não suspiram, a oferta de sexo vai ficando escassa, o casamento naufragou anos antes e, quem o manteve, exibe um marido como um prêmio. Peito e bunda, que difícil que é mantê-los em pé. Assim são as brasileiras na chegada aos 50 anos, diz a antropóloga Mírian Goldemberg.



O que mais preocupa as mulheres após a meia idade está ligado ao aspecto físico. Menos "gostosas", muitas se consideram invisíveis para o mundo. Desconfortáveis com o próprio envelhecimento, elas estariam deixando de aproveitar melhor o corpo, a afetividade, e a liberdade conquistada, diz a antropóloga, que estuda o gênero feminino há mais de 20 anos.



Na entrevista que segue, Mirian aponta as principais características do discurso das mulheres a partir da meia idade. Discurso esse que, segundo a antropóloga, não condiz com as conquistas que essas mesmas mulheres queixosas tiveram em, praticamente, todos os campos: afetivo, sexual, financeiro e até mesmo as possibilidades de manter a boa forma física. A velhice, afinal, pode ser bela. Quem duvida?



Quem é a mulher de 50 anos, brasileira, nesse início de século?

A ênfase na decadência do corpo e na falta de homem é uma característica marcante do discurso das brasileiras. Muitas me disseram que passaram a se sentir invisíveis depois dos 50, por não receberem mais elogios ou por não serem paqueradas na rua. Algumas me disseram, com tristeza, “ninguém mais me chama de gostosa”. A idéia de invisibilidade, e também a de aposentadoria da vida sexual e afetiva, está muito presente no discurso das brasileiras.



Tenho constatado um abismo enorme entre o poder objetivo das mulheres pesquisadas, o poder real que elas conquistaram em diferentes domínios (sucesso, dinheiro, prestígio, reconhecimento, e, até mesmo, a boa forma física) e a miséria subjetiva que aparece em seus discursos (decadência do corpo, gordura, flacidez, doença, medo, solidão, rejeição, abandono, vazio, falta, perda e invisibilidade). Observando a aparência das alemãs e das brasileiras pesquisadas, as últimas parecem ser muito mais jovens e em boa forma do que as primeiras, mas se sentem subjetivamente muito mais velhas e desvalorizadas do que elas. A discrepância entre a realidade objetiva e os sentimentos subjetivos das brasileiras me fez perceber que aqui o envelhecimento é um problema muito maior, o que pode explicar o enorme sacrifício que muitas fazem para parecer mais jovens, por meio do corpo, da roupa e do comportamento. Elas constroem seus discursos enfatizando as perdas que vivenciam, e não suas conquistas objetivas. Em uma cultura, como a brasileira, em que o corpo é um importante capital, o envelhecimento parece ser vivido como um momento de grandes perdas (de capital).



As brasileiras repetem, insistentemente, que “falta homem no mercado”. Por que elas seriam tão centradas na figura masculina? Qual o peso do casamento para uma mulher de 50 anos?

As mulheres que se mostraram mais satisfeitas com suas vidas, entre as brasileiras pesquisadas, são aquelas casadas há muitos anos. Apesar de afirmarem que estão muito satisfeitas, disseram que os seus maridos são completamente dependentes, acomodados, inseguros e infantis. O interessante é que, em quase todos os casos, o marido é o principal provedor da família, tendo um salário muito superior ao da esposa. A partir dos depoimentos das minhas pesquisadas, constatei a existência de uma riqueza extremamente valiosa para as brasileiras: o marido.



Ter um marido, um casamento considerado sólido e satisfatório, é considerado um verdadeiro capital para as brasileiras pesquisadas. Elas se sentem duplamente poderosas, pois, além de terem um marido, acreditam que são mais fortes, independentes e interessantes do que ele. Em um mercado de casamento em que os homens são escassos, principalmente na faixa etária pesquisada, as casadas sentem-se poderosas por terem um produto raro e altamente valorizado pelas mulheres brasileiras e, também, por se sentirem superiores, únicas e imprescindíveis para os seus maridos.



O culto ao belo, atualmente, é muito presente na nossa sociedade. Teoricamente, as mulheres maduras não se encaixam nesse padrão de beleza. De que forma essas mulheres lidam com isso?

Nos últimos anos, pesquisando homens e mulheres das camadas médias do Rio de Janeiro, elaborei uma idéia que venho discutindo em meus livros e palestras: no Brasil, o corpo é um verdadeiro capital. Determinado modelo de corpo, na cultura brasileira contemporânea, é uma riqueza, talvez a mais desejada pelos indivíduos das camadas médias urbanas e também das camadas mais pobres, que percebem seu corpo como um importante veículo de ascensão social e, também, um importante capital no mercado de trabalho, no mercado de casamento e no mercado sexual. Neste sentido, além de um capital físico, o corpo é, também, um capital simbólico, um capital econômico e um capital social. No entanto, é preciso ressaltar que este corpo capital não é um corpo qualquer. É um corpo que deve ser sempre sexy, jovem, magro e em boa forma. Um corpo conquistado por meio de um enorme investimento financeiro, muito trabalho e uma boa dose de sacrifício.



No Brasil, e mais particularmente no Rio de Janeiro, o corpo trabalhado, cuidado, sem marcas indesejáveis (rugas, estrias, celulites, manchas) e sem excessos (gordura, flacidez) é o único que, mesmo sem roupas, está decentemente vestido. Pode-se pensar, neste sentido, que, além do corpo ser muito mais importante do que a roupa, ele é a verdadeira roupa: é o corpo que deve ser exibido, moldado, manipulado, trabalhado, costurado, enfeitado, escolhido, construído, produzido, imitado. É o corpo que entra e sai da moda. A roupa, neste caso, é apenas um acessório para a valorização e exposição deste corpo capital.



Com a idéia de que “o corpo”, no Brasil, é um verdadeiro capital é possível compreender porque as mulheres brasileiras, logo após as norte-americanas, são as maiores consumidores de cirurgia plástica estética em todo o mundo, preenchimentos faciais, botox, tintura para cabelo, entre outros inúmeros procedimentos para conquistarem “o corpo”.



Pode-se dizer que ter “o corpo”, com tudo o que ele simboliza, promove nos brasileiros uma conformidade a um estilo de vida e a um conjunto de normas de conduta, recompensada pela gratificação de pertencer a um grupo de valor superior. “O corpo” surge como um símbolo que consagra e torna visíveis as extremas diferenças entre os grupos sociais no Brasil.



E na hora do sexo? O corpo é motivo de preocupação para elas?

Nos grupos de discussão que realizei com mulheres cariocas de mais de 40 anos, o que mais me chamou atenção foram quatro tipos de ideias, extremamente recorrentes nos depoimentos das pesquisadas: invisibilidade, falta, aposentadoria e liberdade. Um exemplo da ideia de falta é o seguinte: “Sei que é o maior clichê, mas é a mais pura verdade: falta homem no mercado. As minhas amigas que estão na faixa dos 50 estão sozinhas. Meu ex-marido, três meses depois da separação, já estava com uma namorada vinte anos mais nova. Que maluco vai querer uma velha decrépita, ou até mesmo uma coroa enxuta, se pode ter uma jovem durinha com tudo no lugar?”



Algumas pesquisadas se excluem do mercado sexual. Elas usam a ideia de aposentadoria em seus depoimentos. “A última vez que eu transei eu devia ter 50 anos. Tem quem queira, mas eu é que não quero. Me aposentei neste setor.”



Outras ficam obcecadas com as imperfeições do próprio corpo. “Acabei de fazer 40 anos, isso mudou toda a minha percepção do meu corpo. Passei a enxergar coisas que nunca tinha percebido: celulite, estrias, manchas, rugas. É como se de um dia para outro eu tivesse envelhecido 20 anos. Na cama, também tudo mudou. Antes transava de luz acesa, gostava que meus namorados olhassem meu corpo. Agora entro em pânico. Preciso estar com a luz apagada, debaixo do lençol. Não tiro o sutiã para eles não perceberem que o peito está caído. O pior é que sei que eles não estão nem aí para estes detalhes, é tudo paranóia minha”



Muitas mulheres me disseram que passaram a se sentir invisíveis depois dos 40. “Tive muitos namorados até os 40 anos, sempre fui considerada uma mulher sexy. Meu trauma começou quando fiz 40 e namorei um cara de 50. Ele não me enxergava, passava o tempo todo olhando as bundas e os peitos das garotinhas. Aí comecei a me sentir uma velha, pois me sentia invisível para ele.. Aqueles olhares, cantadas, elogios que eram tão comuns na minha vida, desde a adolescência até os 40 anos, simplesmente desapareceram. Sou uma mulher invisível”.



Estes discursos podem ser vistos como uma postura de vitimização das mulheres nesta faixa etária, que apontam, predominantemente, as perdas, os medos e as dificuldades associadas ao envelhecimento.



E a idéia de liberdade, o que significa para essas mulheres, aparentemente tão presas a tantos rótulos?

A frase, “hoje eu posso ser eu mesma pela primeira vez na minha vida” foi repetida por muitas mulheres que percebem o envelhecimento como uma redescoberta, altamente valorizada, de um “eu” que estava encoberto ou subjugado pelas obrigações sociais, especialmente pelo investimento feito no papel de esposa e de mãe. “Hoje em dia, a minha paz de espírito é a coisa que eu mais prezo. Não quero me chatear com homem. Eu não sabia ser sozinha. Hoje eu sei. Pela primeira vez na minha vida eu me sinto realmente livre.” É interessante observar que tanto no discurso de vitimização, quanto no de libertação, dois foram os eixos centrais das brasileiras pesquisadas: o corpo e a relação amorosa e sexual. O corpo foi tanto objeto de extremo sofrimento (em função de suas doenças ou decadência) ou de extremo prazer (em função da maior aceitação e cuidado com ele). Os parceiros amorosos foram, também, objeto de extrema dor (alcoolismo, machismo, violência, autoritarismo, egoísmo, abandono, rejeição, faltas) ou de extremo prazer (companheirismo, prazer sexual, cumplicidade).



Afinal, por que elas nunca estão satisfeitas?

Na minha pesquisa, com 1279 indivíduos das camadas médias da cidade do Rio de Janeiro, quando perguntei: “Quais os principais problemas que você vive ou viveu em seus relacionamentos amorosos?”, homens e mulheres responderam, em primeiro lugar: ciúmes e infidelidade. No entanto, a principal queixa masculina foi, basicamente, falta de compreensão. Já as mulheres responderam: egoísmo, incompatibilidade de gênios, falta de segurança, falta de confiança, falta de sinceridade, falta de diálogo, falta de liberdade, falta de paciência, falta de atenção, falta de companheirismo, falta de maturidade, falta de amor, falta de carinho, falta de tempo, falta de tesão, falta de respeito, falta de individualidade, falta de dinheiro, falta de interesse, falta de reciprocidade, falta de sensibilidade, falta de romance, falta de intensidade, falta de responsabilidade, falta de pontualidade, falta de cumplicidade, falta de igualdade, falta de organização, falta de amizade, falta de alegria, falta de paixão, falta de comunicação, falta de conversa etc. Algumas ainda afirmaram que falta tudo. Enquanto os homens foram extremamente objetivos e econômicos em suas respostas, algumas mulheres chegaram a anexar e grampear folhas ao questionário para acrescentar mais e mais faltas.



No material da minha pesquisa, chama muita atenção o fato de as mulheres reclamarem da falta de intimidade com seus parceiros, enquanto os homens se queixam da falta de compreensão de suas mulheres. Esta me pareceu a diferença de gênero mais marcante entre os meus pesquisados. Do lado feminino, a ânsia por intimidade. Do masculino, a busca por compreensão. Talvez aqui, neste descompasso entre os desejos femininos e masculinos, esteja a chave para se compreender os atuais conflitos nos arranjos conjugais. Pode-se perceber, nos discursos de homens e mulheres, um verdadeiro abismo entre os gêneros quanto ao valor e ao significado da intimidade e da compreensão nos relacionamentos amorosos.



Existe uma forma positiva de envelhecer? Como fazer com que essas mulheres acreditem nisso?

Quando penso em uma forma positiva de envelhecer, penso em homens e mulheres que nunca foram e nunca serão controlados pelas normas sociais. São estes indivíduos, que se reinventam permanentemente, que podem nos ensinar sobre a “bela velhice”.



Penso na geração que foi jovem nos anos 60 e que está começando a envelhecer. Geração que reinventou a sexualidade, o corpo, as novas formas de conjugalidade, casamento e família. Geração que teve como centro a busca do prazer e da liberdade sexual, a recusa de qualquer forma de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres. Geração que não aceitará o imperativo: “seja um velho!” ou qualquer outro tipo de rótulo que sempre rejeitou e contestou.


Em uma cultura, como a brasileira, em que o corpo é um importante capital, o envelhecimento pode ser vivenciado como um momento de perdas e sofrimentos. No entanto, em uma cultura em que a liberdade é o principal valor, o envelhecimento pode ser visto como um momento de novas descobertas, conquistas e realizações.


Fonte: Portal Mais de 50


Achei muito interessante!!!

Sou de uma geração que "foi jovem nos anos 60 e que está começando a envelhecer. Geração que reinventou a sexualidade, o corpo, as novas formas de conjugalidade, casamento e família. Geração que teve como centro a busca do prazer e da liberdade sexual, a recusa de qualquer forma de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres. Geração que não aceitará o imperativo: “seja um velho!” ou qualquer outro tipo de rótulo que sempre rejeitou e contestou."

Marizete
Comer demais faz mal. Aprenda a evitar os exageros na alimentação
(22/06/2010 - 16:23)


O feijão com arroz é um dos pratos prediletos do brasileiro. Mas nem sempre é a melhor opção, principalmente depois dos 50. Com o passar do tempo, a alimentação deve ser cada vez mais equilibrada, embora muita gente passe da conta na hora de se alimentar. Alimentos que forneçam energia, que ajudem na manutenção e mantenham o funcionamento do corpo devem estar presentes à mesa com regularidade. Vive mais quem se exercita mais, cuida da mente e, claro, se alimenta de forma correta e come apenas o que é necessário.



Segundo a nutricionista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Nara Horst, depois dos 50 anos, quanto mais variada for a alimentação, melhor, mas sem exageros. “Se o indivíduo não apresenta nenhuma comorbidade (hipertensão, diabetes, colesterol alto) recomenda-se uma dieta bem variada. E o mais importante é ressaltar que a alimentação seja bem dividida, em torno de cinco a seis refeições por dia, já que, nessa fase, o processo de digestão se torna mais lento”, explica ela.



O cardápio ideal na maturidade não é muito diferente do de outras faixas etárias. Porém, alguns grupos de alimentos são obrigatórios nessa fase. É o caso das fibras e líquidos, do cálcio, ferro, vitaminas e minerais. “Embora poucos saibam, a anemia é bastante comum entre os idosos devido à diminuição da produção de células vermelhas nesta fase da vida. E a carne vermelha é uma das principais fontes de ferro. Alguns estudos demonstram também a deficiência de vitamina C, zinco e ácido fólico. Por isso, ingerir frutas cítricas, como o limão, a tangerina e a laranja ajuda a repor essas vitaminas e sais minerais”, aconselha a nutricionista.



Montar um prato diversificado e, ao mesmo tempo, saudável, pode parecer simples, mas não é. Segundo a nutricionista Vanderlí Marchiori, a combinação entre alimentos energéticos, construtores e reguladores é sempre a ideal. “Os energéticos são o combustível para o corpo e podem ser encontrado em cereais (arroz, pão, milho), na gordura (azeite, óleo) e no açúcar; já os construtores são responsáveis pela manutenção do corpo, presentes em folhas verde-escuras (rúcula, couve, agrião) e nas carnes vermelhas sem gordura e por fim, os reguladores, que são responsáveis pelo funcionamento do corpo, além de aumentar a resistência às infecções, proteger a pele, a visão e os dentes. E podem ser encontrados nas frutas, verduras, legumes e cereais integrais”, recomenda ela.



Embora uma alimentação saudável seja sempre a melhor alternativa, vale ressaltar que nenhum alimento pode prevenir ou causar doenças. Mas quanto mais rica e variada forem as refeições, menores são os riscos à saúde. “É importante deixar claro também que nunca é tarde pra começar a se alimentar adequadamente. Já ouvi várias vezes idosos falando que agora não é hora de mudanças. Que nada, nunca é tarde pra mudanças. E aliado à boa alimentação deve estar a prática de exercícios físicos. De nada adianta uma pessoa se alimentar bem e não ter o hábito de exercitar-se”, adverte Horst.


Fonte: Portal Mais de 50