quarta-feira, 29 de julho de 2009

"Tô contigo"... R$ 352.693.696,58

Nove anos depois, finalmente a verdade aparece, de forma clara e definitiva: a Ambev foi multada em R$ 352.693.696,58 pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), do Ministério da Justiça, por causa de um programa de fidelização de pontos de venda no varejo (leia-se bloquear a presença de qualquer concorrente...).

Nove anos atrás, eu, como Presidente das Cervejarias Kaiser, empreendi uma interessante discussão sobre a pretensão (ainda como proposta) da fusão entre a Antártica e a Brahma, sob o apelido de Ambev.

Nove anos atrás, a Ambev foi "lançada" com pompa e gala, na sala do então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, anunciando ao mundo a formação de uma nova e poderosa empresa brasileira de bebidas... Vendeu-se a idéia de que o Guaraná Antártica invadiria o mundo... "Que orgulho..."

Nove anos atrás, mostrávamos aos jornalistas, aos técnicos do governo e ao público em geral, que essa fusão era um absurdo sob o ponto de vista de que se formava um pré-monopólio no segmento de cervejas.

Nove anos atrás, os órgãos SAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico) e SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), de forma intensa e técnica, disseram não recomendar a fusão das duas empresas, por que o risco da ocorrência de práticas anticoncorrenciais era altíssimo. Era evidente para qualquer pessoa de bom-senso que o Brasil passaria a ter dois mercados no segmento de cervejas: um da Ambev, com cerca de 70% do mercado, e outro, de 30%, com mais de dez diferentes empresas.

Nove anos atrás, o então Presidente do CADE, Sr. Gésner de Oliveira (hoje presidente da Sabesp, companhia de saneamento e águas da cidade de São Paulo), apesar de alertado sobre todos os problemas da fusão (com a ocorrência, inclusive, de conduta dúbia por parte da relatora do processo Hebe Romano), ignorou tudo e referendou a aprovação da Ambev.

Nove anos atrás, qualquer advogado, mesmo não sendo especialista na área, classificaria o ato de aprovação como mais uma "vergonha" da burocracia instalada.

Nove anos depois, o jornal Valor Econômico do dia 23/07/09 noticia em sua página B4: "Outro fato que pesou contra a empresa, foi que o CADE verificou que funcionários da Ambev, responsáveis pelo programa não apenas tinham consciência de que estavam cometendo ilícito antitruste, como procuravam escondê-lo do CADE".

Nove anos depois, o jornal Folha de São Paulo do dia 23/07/09 tem a seguinte manchete na capa: "Ambev leva multa recorde por concorrência desleal".

Nove anos depois, posso escrever essas linhas com 100% de certeza de que o CADE errou.
Nove anos depois, vejo os atuais membros (Conselheiros) do CADE se negarem a comentar a aprovação de março de 2000.

Nove anos depois, reafirmo que nada tenho contra os dirigentes, investidores e/ou funcionários da Ambev. Tenho sim a consciência de que o meu papel como Presidente da Kaiser, um "player" importante do mercado cervejeiro, foi exatamente aquele que se espera de um profissional... Defender sua empresa, sua marca. Nesse caso, posso dizer que a qualificação técnica e o bom-senso nortearam nossa conduta.

Nove anos depois, reafirmo, a AMBEV era e é um bom negócio para seus investidores, mas não é bom para a concorrência e para os consumidores do Brasil.

Nove anos depois, ainda não sabemos quantos dólares o Brasil ganhou exportando guaraná (vocês conhecem alguns caso de sucesso do Guaraná Antarctica fora do Brasil?... Não vale dizer sobre os brasileiros que moram no Japão!).

Nove anos depois recebo uma ligação do meu amigo Tatá (Octacílio) para dizer que eu estava certo na minha argumentação junto ao CADE. Obrigado Tatá pelo reconhecimento. Tô contigo!!

Fonte: brasilprofissoes.com.br/coluna Pandolpho

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