terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Novas teorias sobre o sistema cognitivo que permitem envelhecer com lucidez



Foi-se o tempo em que se divulgavam métodos como palavras cruzadas ou decorar números telefônicos para manter o cérebro ativo por muitos anos. Para os propagadores da idéia, não importava qual o exercício de memorização contanto que fosse feito algum. Hoje sabe-se que se alguém que nunca gostou de palavras cruzadas resolver fazê-las para treinar a memória, o efeito pode ser o oposto, como explica o neuropsiquiatra e professor da Unifesp, Cláudio Guimarães dos Santos.

Não há memória que agüente a avalanche de informações que invade o cotidiano, seja nas escolas, no trabalho ou na mídia. A dificuldade de administrar o excesso de informação provoca estresse e, muitas vezes, problemas mais sérios de saúde. Por isso, pedagogos, neurocientistas, entre outros profissionais, começam a rever a antiga recomendação de repetir e arquivar informações para garantir o cérebro ativo por longo tempo. Segundo eles, não adianta memorizar mas exercer a capacidade crítica.


As novas teorias sobre o sistema cognitivo são animadoras tanto para aqueles que desejam entender e otimizar a própria capacidade de memorização quanto para a recuperação de pacientes com traumas encefálicos e distúrbios mentais. Segundo elas, o treinamento do sistema cognitivo deve estar associado às características singulares do indivíduo, como explica Cláudio Santos. Ele parte do pressuposto de que ninguém aprende aquilo que não gosta, não sabe ou que tem pouca ou nenhuma ligação com o passado. "Memória é como uma teia, em que as informações atuais se conectam com as do passado por associação", explica.


Receber simplesmente uma informação e tentar absorvê-la é perda de tempo. Como não há espaço suficiente no cérebro, o sistema cognitivo precisa apagar algumas informações da memória, para abrir espaço para outras conexões. Porém, se a gente insiste em manter todas as informações todas engavetadas, como se fosse um arquivo, provoca-se um engarrafamento de idéias. Para evitar esse caos e o excesso de informações mal-conectadas, é preciso que cada um interaja e una o conteúdo externo ao que já se sabe.


"Essa rede que é a memória se recicla sempre que as informações que chegam são questionadas e comparadas ao que já se sabe. Novas associações são feitas e outras eliminadas", afirma. Esse processo funciona com maior agilidade quando o conteúdo das informações que se recebe se aproxima do que já se sabe e gosta. Porém, ninguém tem controle sobre esse processo.



A nova visão da neuropsiquiatria é bastante animadora, principalmente no que diz respeito à prevenção e reabilitação do sistema cognitivo. Ela leva em conta a individualidade do paciente e suas experiências passadas para que as interações das informações possam ser feitas. Por exemplo, antes de começar o tratamento com um paciente com seqüelas de traumas encefálicos, Claúdio investiga os hábitos pessoais e profissionais, como os interesses culturais do paciente, para que o paciente possa se conectar com o que se fala nas sessões de tratamento. Parece óbvio, mas a individualidade do paciente é, muitas vezes, ignorada por médicos e outros profissionais de clínicas de reabilitação. Com o tratamento personalizado e continuado, a motivação do paciente aumenta. Assim como a ligação com o mundo e a vontade de viver.


Ao associar memorização com experiências afetivas do passado, as neurociências se integram mais com a psicologia, sem abandonar a questão fisiológica. Sobre isso, a neuropsiquiatria leva em conta modelação estrutural específica do sistema nervoso de cada um. E essa especificidade é mais uma razão para não tratar dois pacientes da mesma maneira.


Mesmo nos casos de lesões mais graves, é possível reorganizar a rede de relações do sistema cognitivo e adaptar outras áreas do cérebro menos trabalhadas. É o caso do cantor Herbert Vianna. O esforço dessas pessoas e dos profissionais que os acompanham para melhorar o sistema cognitivo com o exercício da interação é uma lição de esperança. Principalmente para realizar um dos sonhos da grande maioria das pessoas, que é envelhecer com saúde e lucidez.


Fonte: Portal Mais de 50

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